A professora do curso de Psicologia da FESP Julia Joergensen Schlemm obteve conceito máximo na apresentação de sua tese de doutorado, que aconteceu no dia 08 de abril. A banca de avaliação contou com renomados professores e a defesa, por conta da pandemia do Covid-19, aconteceu de forma mediada digital – plataforma Zoom.
Em 2016, Julia iniciou seus estudos no Programa de Pós-graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR na linha de pesquisa Filosofia da Psicanálise. Nesse período, Julia também conquistou uma bolsa de estudos pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que proporcionou um ano de estudo em Paris, na Université Paris 7.
Em sua tese, a professora aborda o conceito freudiano de melancolia como um modo de estruturação psíquica, aprofundando assim a compreensão dessa forma de luto. “A melancolia enquanto tal é um conceito chave que não podemos perder de vista, principalmente em momentos de grande mudança, como os que estamos vivendo hoje”, disse Julia.
Graduada em psicologia pela Universidade Federal do Paraná, Julia é professora da disciplina “Processos Psicológicos Básicos” e se diz grata por se “ deparar com uma turma muito interessada e dedicada”. Para o coordenador do curso da FESP, prof. Fabiano Mello, a satisfação é manifesta:
“É com grande alegria e satisfação que nós do curso de Psicologia recebemos a noticia da nota máxima concedida à tese da Prof.ª Julia Schlemm. O capital mais valioso que um curso de graduação pode ter é o capital humano formado, principalmente, de seus professores e alunos. A presença de mais uma doutora em nosso quadro de docentes confirma a força das mulheres na excelência do trabalho em pesquisa que é, sem dúvida, um pilar importante da sociedade. O Curso de Psicologia da FESP é comprometido com a formação permanente de nossos docentes, pois acredita que o senso crítico é uma qualidade indispensável para qualquer ser humano”.
Confira abaixo uma rápida entrevista com a prof. Julia Joergensen Schlemm:
Gostaria que falasse um pouco sobre sua formação, o trajeto acadêmico e profissional que a levou até a defesa de doutorado.
Julia Schlemm: Formei-me em psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), no ano de 2013, e logo iniciei atendimentos clínicos sob o viés da psicanálise, em meu consultório particular, trabalho que mantenho até hoje. Em paralelo, ainda no ano de 2013, participava como voluntária em um grupo de luto, Amigos Solidários na Dor do Luto, que ocorria nas dependências da UFPR. Este grupo acolhia pessoas em sofrimento pela perda de entes queridos e, com apoio do Laboratório de Psicopatologia Fundamental do departamento de psicologia da UFPR, do qual eu participava, oferecíamos atendimento psicológico gratuito aos participantes do grupo. No ano seguinte, em 2014, entrei para o programa de mestrado de psicologia da UFPR, com ênfase em psicologia clínica, com o intuito de formalizar teoricamente os atendimentos clínicos realizados com os participantes do grupo. Meu trabalho de mestrado se baseou especificamente no sofrimento de mães que perderam o filho pelo suicídio, tendo a psicanálise como fundamentação teórica e prática.
Qual o tema de sua tese? Pode contar um pouco sobre ela e a satisfação de obter conceito máximo na defesa?
Julia Schlemm: De modo geral, na psicanálise, o sofrimento diante de uma perda de quem se ama denominamos de luto. O luto é um processo psiquicamente necessário para a elaboração da perda. Isso quer dizer que se trata de um processo que, através de palavras, permite ao sujeito significar ou dar outro sentido à sua experiência de dor. No entanto, nem sempre o luto gera elaboração psíquica. Há uma outra forma de luto, sendo este patológico, que Sigmund Freud denomina de melancolia. A especificidade da melancolia é que a pessoa sabe quem perdeu, mas não sabe o que perdeu nessa pessoa, no sentido de que não sabe conscientemente o que esta pessoa representava para si. Essa questão merece grande atenção, pois, sentir uma imensa sensação de perda, sem conseguir compreendê-la, pode culminar em suicídio.
No meu trabalho, analiso essas duas formas possíveis de luto, mas me aprofundo mais na segunda forma, a melancolia. Ao longo dos meus estudos que foram essencialmente na sobre a obra de Freud, percebi como esse conceito é exposto por esse autor de modo superficial, em comparação aos seus outros campos de estudo. Essa percepção fez com que eu buscasse um método de trabalho, que me permitisse compreender melhor o movimento desse conceito na obra de Freud e o contexto do qual o autor o retirou. Encontrei o que procurava na filosofia, especificamente na filosofia da psicanálise, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Assim, em 2016, iniciei meu doutorado. Durante esse período, ganhei uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) que me permitiu passar um ano em Paris, estudando na Université Paris 7.
Em abril de 2020, encerrei meu doutorado, defendendo a tese de que a melancolia pode ser analisada não somente como um sintoma atual e pontual, como Freud a analisa, mas como um modo de estruturação psíquica, uma forma particular que o sujeito percebe a si e o mundo. Em outras palavras, a melancolia que é identificada por Freud a partir de sintomas passageiros de culpa, de grande desvalia de si e de um discurso de desilusão perante a vida, de que não se vale a pena viver, trata-se de uma forma constante de enxergar a si e o mundo, que, em momentos como na perda de alguém amado, torna-se mais exacerbada. A melancolia enquanto tal é um conceito chave que não podemos perder de vista, principalmente em momentos de grande mudança, como os que estamos vivendo hoje. Não podemos esquecer que mudanças acarretam perdas, das quais, muitas vezes, desconhecemos seu significado. Apenas sentimos seus efeitos em uma imensa tristeza, falta de vontade ou desilusão. Em resumo, depois de tantos anos de trabalho, foi um grande prazer poder defender essa tese, ainda mais da forma que foi. Tive uma banca renomada, que avaliou e reconheceu meu trabalho com o conceito máximo.
Qual a disciplina ministra na FESP? Pode falar um pouco sobre as vivências e expectativas como professora do curso de Psicologia?
Julia Schlemm: Na FESP, leciono a disciplina de princípios psicológicos básicos e tive a sorte de me deparar com uma turma muito interessada e dedicada. Nas aulas, tento sempre passar a noção de psiquismo, que envolve todos os princípios psicológicos básicos, entrelaçada à prática clínica, de maneira que os alunos se aproximem cada vez mais da compreensão sobre o que é psicologia e os aspectos que a envolvem. Tento sempre passar meus próprios aprendizados aos alunos, auxiliando-os na busca de seus caminhos profissionais. Meu objetivo e expectativa enquanto professora é possibilitar a formação de psicólogos éticos, que tenham capacidade de análise e crítica sobre a prática e formalização teórica da psicologia.