É comum ver um adolescente chegar em casa irritado, batendo a porta do quarto e que se recusar a conversar. Muitas vezes os pais tentam se aproximar, mas uma resposta comum é apenas o silêncio. Essas situações podem ser frustrantes e, muitas vezes indicam que a raiz do problema está nas emoções dos adolescentes e não nas atitudes. 

A adolescência é uma fase de transformações profundas, não apenas físicas e cognitivas, mas também emocionais. Nessa fase, os jovens enfrentam desafios que exigem mais do que apenas habilidades acadêmicas: é preciso desenvolver a inteligência emocional. 

A Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, entender e gerenciar tanto as próprias emoções quanto as dos outros. De acordo com um estudo da Universidade da Madeira (UMA), em Portugal, adolescentes com maior inteligência emocional demonstram mais habilidade para resolver conflitos e enfrentar as dificuldades no ambiente escolar e familiar. 

A UMA é envolvida em diversos estudos sobre inteligência emocional (como o KidsTalentum and Outdoor training, em colaboração com a Universidade de Málaga), pesquisas sobre a relação entre inteligência emocional e burnout em professores e a relação entre inteligência emocional e rendimento escolar. 

Filhos adolescentes, emoções intensificadas e o papel dos pais 

Em filhos adolescentes, os sentimentos podem parecer intensos e até exagerados, mas são naturais e fazem parte do processo de amadurecimento. O papel dos pais é essencial nesse processo. Ouvir sem julgar, validar os sentimentos e oferecer apoio constante pode colaborar e muito para ajudar os jovens a criar uma base de segurança emocional.

Uma pesquisa publicada na Revista Análise Psicológica revelou que adolescentes que recebem apoio emocional dos pais têm mais facilidade para lidar com frustrações e inseguranças, desenvolvendo estratégias mais saudáveis de enfrentamento. 

Filhos adolescentes observam constantemente as atitudes dos pais, especialmente em relação à gestão das próprias emoções. Ou seja, o exemplo dos adultos também tem grande impacto no comportamento emocional dos filhos. 

Dicas práticas para ensinar Inteligência Emocional ao seu filho adolescente 

Foto: Freepik

Embora a inteligência emocional não seja algo que se ensine com fórmulas prontas, há algumas estratégias simples e eficazes que os pais podem adotar para apoiar seus filhos nesse desenvolvimento: 

1- Pratique a escuta ativa: quando seu filho ou filha decidir se abrir para você, ouça sem interrupções, julgamentos ou conselhos imediatos. Pratica a escuta ativa e apenas ouça e valide os sentimentos deles. Mostrar que você está genuinamente interessado cria um espaço seguro para que eles se expressem. 

2- Ajude a nomear as emoções: comumente os adolescentes não encontram palavras para descrever o que estão sentindo. Ensinar seus filhos adolescentes a identificarem e a nomear emoções, como “raiva”, “tristeza”, “ansiedade” ou “frustração”, pode ajudá-los a entender melhor o que estão vivenciando. 

3- Promova a autorreflexão: ao invés de dar respostas prontas, incentive seu filho(a) a refletir sobre as situações emocionais. Perguntas como “O que você acha que causou essa reação?” ou “Como você se sentiu diante disso?” ajudam a desenvolver a consciência emocional. 

4- Ensine a lidar com os sentimentos de forma saudável: incentive práticas que ajudem seu filho(a) a gerenciar as emoções. Meditação, atividades físicas e hobbies que ele goste podem ser de grande ajuda.

5- Seja um modelo emocional: seus filhos aprendem observando. Portanto, demonstre como lida com suas próprias emoções de maneira construtiva. Se você estiver nervoso ou frustrado, explique seus sentimentos e mostre como você trabalha sua consciência emocional. 

6- Elogie os esforços, não só os resultados: reforce comportamentos emocionais saudáveis, como paciência ou empatia. Ao elogiar a maneira como seu filho lidou com uma situação difícil, você reforça a importância de gerenciar emoções de forma positiva. 

7- Incentive e dê espaço para que seu filho(a) desenvolva autonomia: incentivar a autonomia emocional significa permitir que seu filho(a) tome decisões, enfrente desafios e aprenda com os próprios erros. Evite resolver tudo por eles. Demonstre confiança em sua capacidade de lidar com as situações e ofereça apoio criando um ambiente seguro, mas não superprotetor. 

A relação entre a Inteligência Emocional, o bullying e a saúde mental 

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A Inteligência Emocional também pode servir como uma proteção contra o bullying. Segundo uma pesquisa do SciELO Preprints, adolescentes com maior capacidade de lidar com suas emoções se envolvem menos em situações de agressão (seja como vítimas, agressores ou testemunhas). 

Além disso, um estudo de dissertação do Instituto Universitário (ISPA) apontou que jovens com níveis mais altos de inteligência emocional apresentam menos sintomas de ansiedade, depressão e estresse. Isso demonstra a importância de cultivar essa habilidade para a saúde mental dos adolescentes. 

Embora a inteligência emocional não seja algo que se ensine com fórmulas prontas, ela pode ser cultivada com presença, escuta ativa e afeto. O primeiro passo pode ser tão simples quanto iniciar uma conversa sem julgamentos.