O empresário, escritor e idealizador do conceito de Economia Azul, Gunther Pauli, esteve na sexta-feira (8) no Auditório da FESP para apresentar sua visão da Economia Azul 5.0, defendendo um modelo que une inovação, criatividade e regeneração ambiental com impacto social positivo.
Logo no início, Pauli provocou a plateia com uma reflexão: “Força na economia azul — um convite para ser criativo e inovador”. Para ele, é preciso abandonar o pensamento linear de causa e efeito, como já apontaram teóricos como Humberto Maturana, Francisco Varela e Peter Senge, e adotar uma visão sistêmica, afinal tudo está conectado.
Com exemplos práticos, ele mostrou que soluções simples podem gerar grandes resultados. Na Espanha, por exemplo, pescadores pararam de capturar peixes fêmeas e, em cinco anos, a população de peixes voltou a crescer. “Se você quer mais peixe no rio, às vezes precisa de um predador. É pensar no equilíbrio natural”, afirmou.
Pauli criticou a falta de implementação de acordos internacionais ambientais, relembrando sua participação na COP3, em 1997, quando já defendia a estratégia de zero emissões para a indústria. “Falávamos em neutralidade de carbono para 2020, mas quase nada foi feito. Não quero mais atuar apenas como diplomata — quero agir como empreendedor, criando projetos concretos”, ponderou.
Entre os projetos apresentados, citou a produção de biogás a partir de resíduos suínos no Paraná, o cultivo de cogumelos com resíduos do café em 6 mil fazendas e fábricas que transformam rejeito de mineração em papel feito de micropedras, sem uso de água ou corte de árvores. “Não fazemos apenas críticas, mobilizamos capital, universidades e jovens empreendedores para o bem comum, não para criar o próximo Bill Gates ou Zuckerberg, mas para formar líderes que ajam localmente”, ressaltou.
Na China, Pauli desenvolveu um projeto piloto em 5 mil escolas, que distribuiu 365 fábulas — uma para cada dia do ano —, estimulando otimismo e pensamento criativo entre os jovens. O programa já alcançou mais de um bilhão de cópias distribuídas. “Imagine o que uma mente que acredita que pode tudo é capaz de realizar! Depende dos neurônios, mas também de um ambiente que estimule isso”, afirmou, demonstrando interesse em implementar a iniciativa no Brasil.
Ele também destacou o papel de conhecimentos tradicionais, como o dos povos indígenas da Colômbia, que regeneraram florestas tropicais úmidas utilizando antas — animais essenciais para a dispersão de sementes. Segundo ele, projetos como o reflorestamento da Mata Atlântica, no Rio de Janeiro, precisam considerar esse tipo de integração com a natureza. Pauli cita esse exemplo, pois foi convidado pelo governador do estado do Rio de Janeiro a pensar soluções para o remanescente florestal do território.
Outro exemplo foi o cultivo de algas marinhas. Ele citou que, enquanto a Tanzânia produz toneladas, o Brasil, com seus 8 mil quilômetros de litoral e correntes ricas em nutrientes, ainda não explora esse potencial. “Não é aceitável ter desemprego na zona costeira com tantas oportunidades no mar”, defendeu.
Encerrando, Pauli reforçou que o Brasil possui potencial sem limites, e que o único obstáculo é a falta de ambição, amor e capacidade de transformar boas ideias em ações. Além disso, fez uma provocação ao público presente. “Façam um portfólio de oportunidades, quando fazemos um portfólio com várias opções, nós podemos escolher uma, duas ou três para executar. Mas façam! O país é um paraíso esperando para ser realizado”, concluiu.
Deixar um comentário