Professor da New York University aponta que o Brasil está desconectado do mundo em ecossistemas de inovação, mas que isso pode representar uma oportunidade

A Faculdade FESP foi palco, na sexta-feira (16), do evento À Margem do Mundo: Como o Brasil pode se Firmar nos Novos Ecossistemas de Negócios Globais, que teve como destaque a palestra de Claudio Garcia, professor adjunto da New York University (NYU), Senior Industrial Fellow na Wharton School – Mack Institute e colunista do jornal Valor Econômico.

Foi uma oportunidade valiosa para os participantes refletirem sobre o quanto o Brasil está desconectado do mundo no que se refere ao posicionamento diante de setores como energia, mobilidade e tecnologia — apesar de o país estar entre as dez maiores economias globais.

Na ocasião, Garcia apresentou a líderes empresariais, gestores públicos e profissionais de diversas áreas a importância de o Brasil estar inserido em ecossistemas de inovação, destacando que a conjuntura atual do mundo pode representar a oportunidade que o país precisa para alavancar negócios, bem como modernizar sua base produtiva e tecnológica. Atualmente, o Brasil ocupa a 65ª posição em integração econômica internacional e, no comércio exterior com o restante do mundo, está apenas na 169ª posição entre 181 países.

Claudio Garcia

Claudio Garcia

“O Brasil não é um país conectado com o mundo, e isso representa uma grande oportunidade. Integrar-se mais ao mundo significa acessar mais fluxos de capitais, investimentos, oportunidades de exportação, exposição a novos modelos de gestão e a novas tecnologias. Você acaba participando das cadeias globais de criação de valor”, explica Garcia.

Reflexão sobre o papel do Brasil no mundo

Segundo Claudio Garcia, o atual patamar do Brasil se deve a uma série de fatores, entre eles as formas como as políticas internas foram desenvolvidas ao longo do tempo; a distância geográfica de regiões com maior integração, como Estados Unidos e Europa; e um histórico de políticas econômicas que favoreceram a exploração do consumo interno.

O país possui um mercado consumidor muito expressivo para uma nação em desenvolvimento, maior inclusive do que o de países como China e Índia. “Sempre que há uma oportunidade, é mais fácil explorar o mercado interno do que buscar mercados externos. Isso é percebido até por empresas multinacionais, que vêm explorar esse mercado consumidor. Basta observar que temos muito menos multinacionais brasileiras no exterior do que estrangeiras atuando no Brasil”, argumenta.

Garcia complementa que a integração em um ecossistema de negócios depende das próprias empresas. “O empresário brasileiro é diferente do empresário de outros países; ele não se aventura tanto. Prefere trabalhar sob risco calculado, onde possa saber exatamente onde está se metendo. Isso, infelizmente, tem um lado negativo: muitos deixam de aproveitar oportunidades que poderiam tornar o nosso país muito mais competitivo em relação aos fluxos internacionais.”

Diante disso, ele faz algumas sugestões. “A primeira coisa que sempre digo é que os empresários brasileiros precisam se atualizar sobre o que é gestão em um mundo globalizado, pois o Brasil está muito atrasado nesse aspecto. Existem novos modelos de negócios e novas formas de utilizar a tecnologia que ainda não são exploradas — simplesmente porque muitas empresas não estão integradas às formas emergentes de fazer negócios. O empresário brasileiro quer atuar no exterior, mas leva consigo a ideia de que se opera um negócio lá fora da mesma forma que se opera no Brasil — e não é assim!”

Garcia também destaca que o empresário brasileiro precisa repensar sua visão sobre talentos: “O brasileiro tende a criar um estereótipo de talento e acredita que há um conjunto fixo de traços que o definem. Usam isso para estabelecer uma cultura organizacional e tentam moldar todos dentro desse mesmo padrão”.

De acordo com Claudio Garcia, ao tornar todos iguais, perdemos as chances de aproveitar capacidades diversas que podem ser extremamente úteis em um mundo que valoriza a diversidade.

“Sempre digo que, para ter sucesso no cenário global atual, a capacidade de gerar vantagens competitivas está diretamente ligada à capacidade de absorver o diferente — sejam profissionais, perfis ou visões de mundo. O Brasil precisa passar por essa transição na gestão de talentos”, finaliza.